domingo, 11 de dezembro de 2011

Tropicalismo: quebra de paradigmas na cultura nacional


Tropicalistas prontos para a revolução
 Por Marcelo Pimenta e Silva

            A importância do movimento tropicalista para a cultura brasileira ainda não foi de todo resgatada. Marco cultural e social de um período de contestações sociais, a Tropicália, como ficou conhecido o movimento, foi tão revolucionário quanto à bossa nova para a cultura brasileira em termos globais.
            A gênese do tropicalismo ocorre quando os músicos Caetano Veloso e Gilberto Gil exploram canções com novas perspectivas de melodia e letra nos tradicionais festivais da canção, espetáculos transmitidos ao vivo pela televisão e com grande audiência no país. As primeiras canções tropicalistas “Alegria, Alegria” e “Domingo no Parque”, respectivamente, mostravam-se como uma ruptura com a música tida como nacionalista, como também com a dita “alienada” da jovem guarda, uma espécie de versão comercial e ingênua da “beatlemania”. Os músicos apresentavam um novo estilo musical numa espécie de “mosaico” contendo inúmeras manifestações artísticas do país que dialogavam entre si, tendo como proposta aliar o exotismo do folclore brasileiro com suas mais variadas manifestações, seja o carnaval, a música brega, a literatura de cordel, entre outros. Essa busca por incorporar no universo pop, as características locais é o sinal de que o tropicalismo estava em sintonia com o espírito dos anos 60 que é o de revolucionar os modos e costumes da sociedade daquele contexto.

Diálogo com outras expressões artísticas

            O tropicalismo não foi apenas um movimento musical. Por nascer na efervescência da contracultura e utilizar as informações de uma sociedade que começava a se tornar uma “aldeia global”, o movimento se desenvolveu e teve vínculo com outras manifestações radicais em linguagem e estética como o cinema novo de Glauber Rocha; o teatro autoral e inovador de Zé Celso Martinez Corrêa; o cinema marginal; a imprensa alternativa com jornais como o Pasquim e também nas instalações artísticas de Hélio Oiticica, cuja instalação Tropicália, batizou o movimento. Esses são apenas alguns exemplos de “diálogo” tropicalista com outros formatos de arte e comunicação, diálogo que tinha como base a influência dos ideais modernistas de 1922.      Para o tropicalismo, o essencial era estabelecer contato com a população brasileira, através dos meios de comunicação de massa que estavam se consolidando, produzindo arte sem rótulos ou limites, trazendo desde a poesia concreta dos irmãos Campos até a expressão estética popular e irreverente de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, uma espécie de símbolo da proposta estética do tropicalismo.

Chacrinha: a anarquia e a estética do programa influenciaram o movimento


A experiência tropicalista (1967-1969) resultou na quebra de paradigmas da cultura brasileira daquele período.
Após a decretação do AI-5 (Ato Institucional N°5) em dezembro de 1968, e com o exílio dos dois principais protagonistas do movimento (Caetano Veloso e Gilberto Gil), praticamente a Tropicália acabou. Os remanescentes passaram a ser identificados como pós-tropicalistas e dentre eles, estava o poeta, jornalista e compositor Torquato Neto, mentor do movimento, que acabaria envolvido com diferentes áreas da produção cultural conhecida como marginal. Torquato ao criar uma espécie de ideologia tropicalista onde propunha uma estética fragmentária que culminaria em composições com citações e “imagens” típicas de um roteiro de cinema, revolucionou a forma de se fazer música no Brasil. O poeta, não apenas adicionava novos elementos às canções populares no país, como também abria espaço para que o espírito comunitário, tão em voga com o movimento hippie, fosse adotado por outras áreas, sejam elas as artes plásticas, o teatro, o cinema e a própria imprensa.
Torquato Neto: ideólogo do movimento virou poeta marginal após o exílio dos tropicalistas
 

Passados mais de quarenta anos do auge do movimento tropicalista suas propostas ainda são atuais. É necessário sempre resgatar sua história para que possamos entender não apenas a música e a cultura brasileira contemporânea, mas compreender que a arte pode trazer novas perspectivas para uma sociedade.  

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