Por Marcelo Pimenta e Silva
A veiculação de reportagens com a violência, é um dos assuntos principais de programas “populares” nas emissoras de televisão. Com a justificativa de que se trabalha apenas o discurso jornalístico, a violência pauta cada vez mais a mídia - o velho slogan de que o papel do meio de comunicação é informar a “vida como ela é”, torna-se pressuposto para produções em que os jornalistas tornam-se “agentes da lei”.
Recorte da realidade
Os programas sensacionalistas passaram a contar com uma profusão de espaços na mídia televisiva, a maioria tendo à frente jornalistas-apresentadores que encarnam o papel de juiz e líder autoritário perante a massa espectadora. Não raro, assistimos aos jornalistas adotarem um tom agressivo, com direito a palavras ofensivas para expressar sua opinião. Esse discurso destoa de um telejornalismo tradicional, onde o apresentador serve como “instrumento” para anunciar as reportagens, quase sempre sem expressar a opinião. Todavia, a partir de âncoras como o jornalista Boris Casoy, que ficou conhecido por emitir opiniões para a câmera, tendo como lema o bordão “Isso é uma vergonha!”, o papel do âncora, como um simples apresentador de notícias, acabou mudando.
Da Tena: jornalista vira juiz e vigia da sociedade |
A dita imparcialidade do jornalismo não funciona, visto que é comprovado que a produção de notícias parte de ações subjetivas, desde captação de informações, edição e a própria apresentação. Ou seja, o jornalismo produz discursos constituídos de recortes da realidade que é apreendida segundo a subjetividade de cada ator social. Portanto, os velhos paradigmas que caracterizam o valor da notícia: atualidade; universalidade; proximidade e proeminência caem por terra no campo desses programas de “jornalismo denúncia”, praticados cada vez mais na televisão aberta.
A pauta diária desses programas é baseada na denúncia de uma sociedade alijada em seus valores e princípios, onde o caos toma conta de todos os espaços e há pouca presença efetiva do Estado para que seja concedida a proteção e a segurança do cidadão. Dessa forma, a mídia expõe a falência do Estado de forma crítica. Suas notícias apresentam apenas esse modelo da realidade, sem a possibilidade de uma construção de debate ou de novas perspectivas. Essa espécie de “jornalismo apocalíptico”, que seduz a massa com a insegurança, essa atuante num contexto histórico sem mais ideologias, passa a enaltecer apenas a mídia como instrumento socializador e regulador de certa “normalidade”.
A mídia como vigia da sociedade
Nos programas de “jornalismo policial”, o Estado só ganha destaque pelo aparelho de repressão da polícia, sempre enaltecido como “símbolo ordeiro”, mal visto pelas autoridades que não favorecem a classe de funcionários da segurança. Nesse intuito, uma sociedade desorganizada e insegura é aquela que não paga salários melhores para os policiais e nem aumenta o efetivo nas ruas. Com esse tipo de discurso, os programas jornalísticos beiram uma tônica voltada aos ideais totalitários de que a repressão é a melhor saída para qualquer tipo de sociedade. Em nenhum momento é discutido que os problemas de violência e criminalidade são de ordem social, tais como a histórica disparidade econômica entre as classes; a educação que recebe o descaso de governo a governo, bem como a política nacional direcionada a interesses partidários e de diversas instituições e empresas que formam uma concentração de renda fomentadora da exclusão social.
Programa legitima a visão do poder policial: Apenas uma versão dos lados nesse jornalismo |
Nessa espécie de comunhão de forças que envolvem jornalistas e sistema de repressão, a figura da mídia - com a possibilidade de transmitir do alto de um helicóptero policial todas as ações por terra dos agentes de segurança - constrói a idéia da mídia como vigia social, protetora da sociedade.
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