Exibição de longa durante o III Festival de Cinema da Fronteira aborda o cinema político como objeto de reflexão conscientização
Por Marcelo Pimenta e Silva
O cinema como instrumento de discussão e reflexão política possibilitou ontem, no Centro Histórico Santa Thereza (CHST) durante o III Festival de Cinema da Fronteira, a observação da realidade de um país distante, o Afeganistão. Todavia, suas problemáticas estão próximas de todos nós, orientais ou ocidentais desde a queda das Torres Gêmeas em setembro de 2011 e quando o regime fundamentalista do Talibã ganhou destaque nos noticiários do mundo.
Na ocasião, o filme e o debate Fronteiras Políticas tiveram como proposta a exibição do longa "A Caminho de Kandahar" de Mohsen Makhmalbaf, lançado no ano de 2001, além de uma discussão sobre a obra com o filósofo Luís Rubira. O filme apresenta o cotidiano de um país, que assim como outros, foi 'palco' da disputa política entre EUA e a antiga URSS durante a Guerra Fria. Após a queda do muro de Berlim (1989) e o fim do conflito bipolar, o Afeganistão, que em 1979 foi ocupado pela União Soviética, cai nas mãos de grupos radicais como o Talibã que através do fundamentalismo religioso toma o poder e promove ações de terror dentro do país quanto em outras regiões do planeta.
A apresentação do filme e o debate são baseados no trabalho de Ciclos de Cinema, o Cine Filo, do Departamento de Filosofia da Ufpel, que tem a coordenação do professor e filósofo Luís Rubira.
Com a primeira série de filmes exibidos em 2010, o Cine Filo teve, em seu primeiro ciclo, a discussão em torno dos grandes conflitos da humanidade representados em 28 obras cinematográficas. Dividido em três atos ou séries (O mundo durante a Guerra Fria 1945-1991; Da Revolução Francesa ao fim da década de 40 e Do fim da Guerra Fria aos nossos dias), um público formado por estudantes e comunidade em geral pôde assistir de filmes cults como "Os Possessos" (Andrzej Wadja, 1988) e "A Chinesa" (Jean-Luc Godard, 1967) a obras que retratam a ditadura militar no Conesul, como "Estado de Sítio" de Costa Gravas (1973), "Chove sobre Santiago" de Helvio Soto (1975) a "Batismo de Sangue", de Helvécio Ratton (2006), entre outros.
- O Cinema político é o cinema por excelência. Todo cinema é político, mas uma determinada filmografia produzida mo século XX coloca-nos diante dos grandes acontecimentos e das questões políticas da humanidade. Além disso, talvez nenhuma outra forma de arte seja tão apropriada para um contato inquietante com temas como ideologia, imperialismo, totalitarismo, fundamentalismo, intolerância. Ao abordar as guerras, as ditaduras, o terrorismo, as guerrilhas e o processo revolucionário, o cinema político nos faz pensar profundamente sobre os eventos que marcaram e marcam a história do homem, afirma em texto de apresentação do ciclo de filmes políticos.
O evento é prestigiado na cidade de Pelotas pela comunidade em geral, permitindo que um público de 16 a 84 anos e, das mais distintas classes sociais e formação intelectual, possa compreender e se emocionar com a magia do cinema e com os temas ali apresentados.
- O cinema é uma arma para pensar. As pessoas se reúnem por duas horas ao longo da projeção de um longa e, após, refletem e participam da discussão sobre o tema que assistiram, permitindo que diversos temas sejam discutidos e que se relacionem à proposta da obra, o que faz com que o cinema permita às pessoas entender questões específicas como a Guerra Fria, de maneira mais fácil e também proporcione um olhar sobre o mundo.
Já neste ano, a temática da série de filmes abordou as mais diversas manifestações religiosas. Com o título de "A Filosofia e o Cinema Religioso", o segundo ciclo de filmes abordou o conflito espiritual da humanidade em 40 obras cinematográficas. Rubira comenta que o ciclo permitiu que as pessoas tivessem contato com filmes que apresentassem temas como dogmas e fanatismos, sob o olhar da arte e também fossem vislumbradas as mais diversas representações que os diretores têm sobre um determinado assunto.
- Na mostra, apresentamos três filmes que abordam a personagem Joana d'Arc, desde o primeiro "O Martírio de Joana d'Arc" de 1928 até a recente produção de Luc Besson com Milla Jovovich, de 1999.
O ciclo, como o que tratou de política, divide-se em três eixos: "O Conflito Espiritual", "A Convicção Religiosa" e "O Percurso Interior". Nele, clássicos de Bergman, Kurosawa, Rossellini, Wenders, Buñuel, Rocha e Tarkovsky "dialogavam" com obras não tão conhecidas, mas tampouco menos importantes, de autores como Denys Arcand, Karin Albou, Ricardo Dias, Benjamim Christensen, entre tantos outros.
Para 2012, Rubira comenta que serão apresentados 30 filmes e que a temática do ciclo será a psicologia humana.
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