Numa grande redoma de vidro, expõem-se os animais selvagens. Não estão adestrados, diz o treinador. Todos eles ainda não se comportam como deveriam. Mas em pouco tempo estarão confortáveis com a situação e apenas viverão dessa forma. O velho comenta que as regras são bem claras: desfrute deste momento e não pense em mais nada.
Por um lado ele está certo: que animais desprezíveis esses que querem pensar. “Animais não podem pensar!” Ratifica o senhor de terno e gravata ao meu lado.
É melhor que fiquem nas jaulas, sejam domesticados e tornem-se meros ursos de pelúcia. Estáticos com um sorriso boçal e um perfume estranho de “novidade”. Escuto isso de uma senhora com um bonito casaco de pele. Sua pele parece de plástico. Estranho, mas tudo aqui é feito de plástico.
Caminho observando as espécies que ali estão. Há uma fauna interessante com exemplos da biodiversidade da nossa terra. Eu ia perguntar por que eles não estão se matando, seguindo os preceitos de Darwin, mas nessa hora ciência seria uma piada entre esses senhores e senhoras de bonito sobrenome.
São vários os animais na mesma jaula. O mestre diz que não é jaula, afinal não estão presos. “Você vê alguma algema?”. Digo que não.
Eles têm comida, pegam sol, brincam entre eles e sonham. Adormecem como bebês sem nenhum tipo de droga. “Até fazem alguma sacanagem...” comenta com um sorriso irônico o prestigiado político.
Noto que todos ficam mais calmos quando o outro adestrador entra nas jaulas e liga um aparelho moderno. Daquela caixa sai uma luz e depois uma seqüência de imagens e sons e como num passe de mágica todos os animais selvagens ali se reúnem e ficam ainda mais dóceis... quase que hipnotizados.
Pergunto para o adestrador mais velho que aparelho é aquele que fez com que todos os animais ficassem mais dóceis e passivos.
Ele sorri e diz com entusiasmo: “É uma tecnologia moderna que chegou agora do estrangeiro e se chama televisão!”.
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