Ronaldinho e Galliani: Sorrisos para os cariocas; lágrimas para os gaúchos |
Em tempos de redes sociais e de múltiplas ferramentas de interatividade entre leitores e jornalistas, o caso, ou melhor, a “novela” Ronaldinho Gaúcho foi um dos maiores exemplos do excesso de má-informação do jornalismo atual. Houve mais achismos do que notícias palpáveis. O que era a simples cobertura de uma transação milionária do futebol mundial acabou tornando-se uma piada midiática. Tudo porque foram dias e mais dias de “circo” em que todos os dias os jornais, principalmente de RS, RJ e SP, davam como certa a contratação do jogador por clubes desses três estados. Claro, que quem lucrava com todo esse espetáculo foram os principais interessados: o jogador Ronaldinho Gaúcho e o seu procurador, o irmão e ex-jogador profissional, Assis. O que se viu foi um grande leilão potencializado pela cobertura da mídia que diariamente transmitia especulações como se fossem informações.
Nesses tempos de cibercultura, pós-modernidade e tantos outros termos que procuram decifrar a velocidade das informações na era da internet, quem perde é a imprensa. Isso fica evidente quando jornalistas experientes são “pautados” por comentários em ferramentas sociais como o Twitter, por exemplo. Pior é a dedução dos “profissionais da área” que batem o martelo e assinam suas reportagens como se a verdade os pertencesse. No caso Ronaldinho Gaúcho, só houve uma verdade: ele quer a vida mansa e nada melhor do que jogar no Flamengo e curtir os prazeres da “Cidade Maravilhosa”.
O jornal gaúcho Zero Hora insistiu durante um mês que Ronaldinho voltaria para casa e seria, consequentemente, a maior contratação da história do Grêmio Football Porto Alegrense.
Analisando agora, percebe-se que o veículo de comunicação deveria ter apenas como fonte a diretoria do clube, porque talvez só ela pensasse que era certa a vinda do craque para o plantel de Renato Gaúcho. Porém, a novela teve inúmeros capítulos e, o tão propagado amor de Ronaldinho pelo Grêmio era uma falácia, um embuste, uma enrolação.
O problema é que faltou combinar com Ronaldinho e Assis qual seria o final da novela.
Se a imprensa gaúcha teve dias de sonho e fantasiou com as inúmeras pautas que Ronaldinho Gaúcho ofertaria, logo acordou caindo da cama e voltando à realidade.
Após o grande “espetáculo” da coletiva no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, era evidente a má vontade do jogador em voltar ao Grêmio, porém a imprensa gaúcha seguia o desejo da direção e comemorava que o negócio estava certo. O “show” no Rio de Janeiro era apenas para despistar e “apimentar” ainda mais a trama, que agora já era mais para Projac do que RBS.
Contudo, a pergunta era: Se Ronaldinho estava certo no Grêmio porque realizar uma coletiva no Rio de Janeiro?
Para a Zero Hora e, principalmente para o jornalista enviado ao Rio, Leandro Behs, a resposta era simples: Ronaldo e Assis queriam apenas “agradar” ao vice-presidente do Milan, o empresário Adriano Galliani, um notório apaixonado pelo Rio e pelo...Flamengo. Contudo, o repórter foi mais longe na sua percepção de “homem da imprensa”, para ele, a observação da fala de Assis e Ronaldinho eram cheias de “símbolos e códigos” que, se bem traduzidos, como ele fizera, indicavam qual seria o destino do ex-craque do Barcelona e Seleção Brasileira.
Num trecho da reportagem “Tanto barulho...”, publicada no dia 7 de janeiro, Behs afirma: “O retorno ao Grêmio foi indicado nas declarações finais. Logo depois que Galliani declarou-se “torcedor do Flamengo”, mas apressou-se em afirmar: a decisão seria de Ronaldinho e do irmão, que respirou fundo: - Ainda estou administrando as palavras do seu Galliani (risos)”.
Em outro trecho, Behs, munido dessas “informações” discorre: “Ronaldinho voltará para casa. O contrato pode ser assinado ainda hoje em Porto Alegre. Nos bastidores, Assis e Ronaldinho precisavam se livrar de uma situação difícil na qual foram colocados. Galliani ama o Rio. Tem apartamento no Leblon e é casado com uma brasileira. E também precisava dar uma resposta oficial aos torcedores italianos”.
O fato é que o jornalista utilizou apenas de sua interpretação, mas sem dados concretos de informação, para afirmar sobre uma transferência que para qualquer leigo em jornalismo ou futebol, já dava sinais de que seria acertada com o clube do Rio de Janeiro.
Essa interpretação fica evidente quando Behs transcreve que “colocados em uma saia justa por Galliani, os irmãos Assis Moreira não esconderam certos constrangimentos em determinadas perguntas – sobre o Flamengo. Ronaldinho respondia, baixava os olhos, dava um sorriso, segurava o queixo com a mão esquerda, deixava a boina cair nos olhos em alguns momentos. Tudo para escapar de tomar posição. Está com as malas prontas, voltando para casa.”.
A Zero Hora, assim como outros veículos do Rio Grande do Sul tiveram apenas como “fonte oficial” a direção do Grêmio, essa já dava como certa a contratação. Um vídeo no You Tube mostra o discurso do presidente do Grêmio Paulo Odone afirmando, na reapresentação do plantel da equipe, que Ronaldinho Gaúcho já era do Grêmio.
O resultado? Uma novela com final de comédia pastelão. Tanto o Grêmio - e a imprensa gaúcha - tiveram que engolir a transferência do atleta para o Flamengo e o pior: não tiveram a humildade de assumir que estavam errados em suas “conjecturas”.
O sonho acabou e a imprensa gaúcha com toda sua cota de especulações sai chamuscada com suas notícias que davam como certa a contratação milionária. O momento é de culpar os culpados e eles já têm nomes. Agora os vilões são Assis e Ronaldinho Gaúcho. Galliani encarna o papel de assassino do “sonho” e o Rio de Janeiro, com suas praias, samba e mulatas passa a ser o inferno astral para aqueles que deliravam com a presença do craque no Rio Grande do Sul.
Que venha o Campeonato Gaúcho, o inverno e as notícias corriqueiras!
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