terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A Cultura do Rock - Imagem, Som e Clichês - (parte I)



1 - O poder da imagem no rock


Voltamos aos anos 60, período em que a indústria cultural estabelece (e consolida) um novo mercado para o famigerado estilo musical da juventude, o rock, que passa a ser um produto de sucesso comercial cada vez maior. Nesse período (década de 60) as gravadoras destinavam mais e mais recursos para que as bandas produzissem, acima de tudo, uma imagem que auxiliasse nas vendas dos elepês. Claro, em comparação com os dias atuais, é inegável que a música ainda era o fator principal para uma banda fazer sucesso, mas é a partir dos anos 60, que artistas plásticos, desenhistas e fotógrafos irão moldar uma imagem para o rock que surgia, um estilo com conotação mais política e consciente de seu papel social, do que o som divulgado na década anterior por nomes como Elvis Presley, Chuck Berry, entre outros.



Se formos analisar as capas de discos da época podemos notar uma preocupação nascente em trabalhar com conceitos novos, e o psicodelismo - cultura divulgada em larga escala no ocidente a partir de uma combinação que envolvia misticismo oriental, filosofia e cultura das drogas e do amor livre, tornou-se um viés para que formas coloridas e saturadas dessem o tom, além do tradicional “capa-com-foto-da-banda".

A arte psicodélica começava a dar as caras em capas de discos de bandas renomadas como os Beatles em Revolver (1966), e de grupos underground como a americana 13Th Floor Elevators em seu The psicdelic sounds of the 13 th Floor Elevators. A moda da distorção de imagens com letras em formatos surreais e, a saturação de cores, pretendia ilustrar aos ouvintes a uma viagem de ácido. Com essa proposta em voga espalharam-se estúdios como Hapshash & The Coloured Coat e Family Dog.




A imagem psicodélica passou a ser uma constante em capas de discos, bem como os altos custos em produção para que se obtivessem resultados primorosos e inovadores. Quem estava atento a essa fase do rock eram os Beatles que farão uma espécie de “radiografia” do ano de 1967 com a psicodélica capa de Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band. A capa desenvolvida pela empresa de design MC Productions com fotografia de Michael Cooper e um trabalho de colagem realizada pelo artista plástico Peter Blake, traria uma concepção surreal de referências do universo pop ao mesclar a banda com celebridades que iam de Marlon Brandon, Karl Marx, Fred Astaire, Aleister Crowley, Oscar Wilde, entre outros.



O disco até hoje é considerado a maior obra do rock e definiu novos parâmetros para o estilo: além de discos com boas canções, era de grande valia a parte estética das capas de cada lançamento.

Se a arte psicodélica atingiu em cheio as capas dos álbuns de rock, logo ela se espalhou para outros formatos de divulgação. Os cartazes de shows foram vitrine para diversos artistas plásticos. Os pioneiros na criação de cartazes psicodélicos foram os músicos George Hunter e Mike Fergunson do grupo The Charlatans. Os dois, que eram usuários de LSD, desenvolveram em 1965 o pôster para o show de estréia da banda. A obra conhecida como “The Seed” (A semente) apresentava um estilo diferente para os padrões de arte gráfica da época, o que traria uma grande influência para o cenário pop.



Segundo a artista plástica Natália Cristine em artigo publicado no site Rock Puro, o pôster é uma mensagem visual feita pela mistura de palavras e imagens gráficas (abstratas ou pictóricas), com a intenção de gerar uma impressão instantânea no espectador. Tendo como objetivo conduzir o público a uma ação específica: ir ao teatro, comprar um produto, tomar uma posição política ou social...

"Direcionados para uma audiência jovem, rebelde e, também usuária de drogas, os cartazes psicodélicos geraram um grande impacto para a época! Para muitos, essas imagens tinham difícil compreensão, causado pelas composições confusas onde as mensagens eram quase ilegíveis. Um redemoinho de linhas e cores destoantes. Alguns pôsteres tornaram-se quebra-cabeças para serem entendidos em primeiro instante por pessoas que conheciam a experiência e diferentes sensações causadas proporcionadas pelo uso do LSD." (CRISTINE, Natália. Expansão do movimento psicodélico. Disponível em http//: www.rockpuro.net).





Os cartazes psicodélicos divulgando shows no The Filmore Auditorium, em São Francisco marcaram o “verão de amor” da cultura hippie. O auditório organizado pelo empresário Bill Graham, e liderado pelo produtor Chet Helms, dava espaço para as bandas que surgiam naquele período, tais como: Grateful Dead, Jefferson Airplane, The Doors, Love, entre outros nomes do flower power.



Na Inglaterra os cartazes de shows da "swinging London" também traduziam em cores berrantes os delírios psicodélicos de uma geração. Os artistas Michael English e Nigel Haymouth estilizaram diversos pôsteres de apresentações que ocorriam no clube UFO, que assim como o Filmore, em São Francisco, servia de palco para bandas ainda restritas ao underground como Pink Floyd, The Move, Soft Machine, entre outros.


A popularização do rock como um produto comercial, mas ainda, divulgado como “instrumento” de revolta para a contracultura, aos poucos consolidou, como já vimos anteriormente, uma grande rentabilidade para toda uma indústria que envolvia gravadoras, rádios, bandas e imprensa. Com isso, houve a necessidade de uma mídia especializada nesse “produto” cultural. É a partir desse momento que o rock se profissionalizava tendo uma imagem e identidade "vendida" naquele contexto social da década de 60.



Quem sou

Marcelo Pimenta e Silva
Possui graduação em jornalismo pela Universidade da Região da Campanha - Urcamp - RS no ano de 2009. Atualmente é integrante do Núcleo de Pesquisa em História da Educação e Comunicação Social da Urcamp - Bagé. 


Trabalha como jornalista freelancer e pesquisador. Tem experiência com assessoria de imprensa. Já publicou textos e artigos em jornais de Bagé, revistas e sites. 



Texto de apresentação

Diferentemente dos outros endereços de blogs que possuo, o Blog do Pimenta nasceu da necessidade de ter um espaço direcionado à minha produção acadêmica e a artigos referentes à prática do jornalismo e da pesquisa. Também serão publicadas notas e algumas reportagens, mas sempre com a tônica de ser um canal para textos críticos e que busquem a reflexão intelectual.

Alguns desses textos já foram publicados em revistas e sites e até mesmo no blog de poesias e textos diversos, que possuo, o blog mais conhecido como “Baú de Atmosferas” ou “O Zine”.

Agora serão republicados no “Blog do Pimenta” que passa a ter seu próprio direcionamento, de forma segmentada, a partir dessa postagem.

Saudações aos amigos da internet que irão acompanhá-lo.

Atenciosamente

Marcelo Pimenta e Silva
Jornalista e pesquisador